Infraestrutura para Carros Elétricos no Brasil: Desafios e Avanços em 2025

O Brasil vive um momento crucial na transição para a mobilidade elétrica em 2025. Com o crescimento expressivo nas vendas de veículos eletrificados, que aumentaram 6,6% no primeiro quadrimestre deste ano em comparação ao mesmo período de 2024, surge uma questão fundamental: nossa infraestrutura está preparada para suportar essa revolução? Este artigo analisa o panorama atual da infraestrutura de recarga para veículos elétricos no país, os desafios enfrentados e as perspectivas para o futuro próximo.

O Cenário Atual da Infraestrutura de Recarga

A infraestrutura de recarga para veículos elétricos no Brasil tem avançado de forma significativa nos últimos anos, embora ainda esteja longe do ideal. Segundo dados da Associação Brasileira de Infraestrutura para Mobilidade Elétrica (ABIME), o país conta atualmente com aproximadamente 2.800 pontos de recarga públicos, concentrados principalmente nas regiões Sul e Sudeste, com destaque para os estados de São Paulo, Rio de Janeiro e Paraná.

Os chamados “corredores elétricos” têm se expandido gradualmente, conectando importantes rotas como a ligação entre São Paulo e Rio de Janeiro, São Paulo e Curitiba, e Belo Horizonte e Vitória. Esses corredores são equipados com estações de recarga rápida, que permitem carregar até 80% da bateria de um veículo elétrico em cerca de 30 a 40 minutos, dependendo do modelo e da capacidade da estação.

No entanto, a distribuição geográfica desses pontos ainda é bastante desigual. Enquanto as capitais e grandes centros urbanos contam com uma rede relativamente densa de eletropostos, as regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste ainda sofrem com a escassez de infraestrutura, o que limita a adoção de veículos elétricos nessas áreas e dificulta viagens de longa distância.

Tipos de Carregadores e Padronização

Um dos desafios enfrentados pelo mercado brasileiro é a falta de padronização dos conectores de recarga. Atualmente, coexistem no país diferentes padrões, como o CCS Combo 2 (utilizado por marcas europeias e americanas), o CHAdeMO (adotado principalmente por fabricantes japoneses) e o GB/T (padrão chinês, presente em veículos da BYD, GWM e outras marcas asiáticas).

Essa diversidade de padrões cria dificuldades tanto para os usuários quanto para os operadores de infraestrutura, que precisam investir em múltiplos tipos de conectores para atender a diferentes veículos. Algumas estações de recarga já oferecem conectores múltiplos, mas isso eleva o custo de instalação e manutenção.

Quanto à potência de carregamento, podemos classificar os carregadores em três categorias principais:

  1. Carregadores Lentos (AC): Com potência de até 7,4 kW, são geralmente utilizados em residências e estacionamentos de longa permanência. O tempo de recarga completa pode variar de 6 a 12 horas, dependendo da capacidade da bateria.
  2. Carregadores Semi-rápidos (AC): Com potência entre 11 kW e 22 kW, são comuns em shopping centers, supermercados e estabelecimentos comerciais. Podem recarregar um veículo em 2 a 4 horas.
  3. Carregadores Rápidos (DC): Com potência a partir de 50 kW, chegando a 350 kW nos modelos mais avançados, permitem recargas de 20% a 80% em 20 a 40 minutos. São instalados principalmente em rodovias e pontos estratégicos para viagens de longa distância.

Iniciativas Públicas e Privadas

O desenvolvimento da infraestrutura de recarga no Brasil tem sido impulsionado tanto por iniciativas públicas quanto privadas. Entre as principais ações, destacam-se:

A Eletrobras, em parceria com concessionárias de energia elétrica, tem implementado o programa “Corredores Verdes”, que visa instalar estações de recarga rápida em rodovias estratégicas. Até o momento, o programa já instalou mais de 200 pontos de recarga em 15 estados brasileiros.

Empresas privadas como a Raízen (através da marca Shell Recharge), Porsche, EDP e Volvo têm investido na instalação de eletropostos em rodovias, shopping centers e concessionárias. A Raízen, por exemplo, anunciou recentemente a expansão de sua rede para 500 pontos de recarga até o final de 2025.

Redes de varejo como Carrefour, Pão de Açúcar e Magazine Luiza também têm instalado estações de recarga em suas lojas, oferecendo o serviço gratuitamente ou a preços subsidiados para atrair clientes proprietários de veículos elétricos.

Algumas cidades brasileiras, como São Paulo, Curitiba e Belo Horizonte, têm implementado políticas de incentivo à mobilidade elétrica, incluindo a instalação de pontos de recarga em vias públicas e estacionamentos municipais.

Desafios e Gargalos

Apesar dos avanços, a infraestrutura de recarga para veículos elétricos no Brasil ainda enfrenta desafios significativos:

Distribuição geográfica desigual: A concentração de pontos de recarga nas regiões Sul e Sudeste cria “desertos de recarga” em outras partes do país, limitando o uso de veículos elétricos em viagens interestaduais.

Custo de instalação e manutenção: A implementação de uma estação de recarga rápida pode custar entre R$ 150 mil e R$ 500 mil, dependendo da potência e do número de conectores, o que dificulta a expansão da rede.

Capacidade da rede elétrica: Em algumas regiões, a rede de distribuição de energia elétrica não está preparada para suportar a demanda adicional gerada por múltiplos pontos de recarga, especialmente os de alta potência.

Falta de padronização: A diversidade de conectores e protocolos de comunicação dificulta a interoperabilidade entre diferentes veículos e estações de recarga.

Modelo de negócio: Ainda não existe um modelo de negócio consolidado para a operação de estações de recarga, o que gera incertezas para potenciais investidores.

Perspectivas e Tendências

Apesar dos desafios, as perspectivas para a infraestrutura de recarga no Brasil são promissoras. Especialistas do setor projetam um crescimento acelerado nos próximos anos, impulsionado por:

Aumento da frota de veículos elétricos: Com a chegada de novos modelos ao mercado e a redução gradual dos preços, espera-se que a frota de veículos elétricos no Brasil triplique até 2027, criando demanda para mais pontos de recarga.

Investimentos em tecnologia: Novas tecnologias, como carregadores ultrarrápidos (com potência superior a 350 kW) e sistemas de gerenciamento inteligente de recarga, devem tornar o processo mais eficiente e conveniente para os usuários.

Integração com energias renováveis: A combinação de estações de recarga com sistemas de geração solar fotovoltaica tem se mostrado uma tendência promissora, reduzindo o impacto na rede elétrica e os custos operacionais.

Políticas de incentivo: Projetos de lei em tramitação no Congresso Nacional preveem incentivos fiscais para a instalação de infraestrutura de recarga, o que pode acelerar a expansão da rede.

Parcerias público-privadas: A colaboração entre governos, concessionárias de energia e empresas privadas tem se mostrado um modelo eficiente para a implementação de infraestrutura de recarga em larga escala.

Recomendações para Proprietários de Veículos Elétricos

Para os proprietários ou futuros compradores de veículos elétricos no Brasil, algumas recomendações podem ajudar a lidar com as limitações da infraestrutura atual:

Instale um carregador residencial: Se possível, invista em um carregador wallbox para sua residência. Com custo entre R$ 3.000 e R$ 8.000 (mais instalação), esse equipamento permite recarregar o veículo durante a noite, aproveitando tarifas mais baixas de energia.

Utilize aplicativos de mapeamento: Aplicativos como Plugshare, Waze e Google Maps já incluem informações sobre pontos de recarga, ajudando a planejar viagens de longa distância.

Considere a autonomia real: Ao adquirir um veículo elétrico, leve em conta que a autonomia real pode ser 20% a 30% menor que a anunciada, especialmente em rodovias ou com uso de ar-condicionado.

Planeje suas viagens: Em trajetos longos, planeje paradas estratégicas em locais com estações de recarga confiáveis e verifique antecipadamente a disponibilidade e compatibilidade dos carregadores.

Aproveite o tempo de recarga: As paradas para recarga podem ser aproveitadas para refeições, descanso ou trabalho remoto. Muitas estações estão localizadas em áreas com serviços e comodidades.

Conclusão

A infraestrutura de recarga para veículos elétricos no Brasil está em pleno desenvolvimento, com avanços significativos nos últimos anos, mas ainda enfrenta desafios importantes. A expansão da rede de eletropostos é fundamental para viabilizar a transição para a mobilidade elétrica em larga escala no país.

Com o aumento da oferta de veículos elétricos no mercado brasileiro e o crescente interesse dos consumidores por opções mais sustentáveis, a tendência é que os investimentos em infraestrutura se intensifiquem nos próximos anos. A colaboração entre setor público, empresas privadas e concessionárias de energia será essencial para superar os gargalos existentes e criar uma rede de recarga abrangente e eficiente.

Para que o Brasil possa aproveitar plenamente os benefícios ambientais e econômicos da mobilidade elétrica, é fundamental que a expansão da infraestrutura de recarga ocorra de forma planejada e inclusiva, atendendo às diferentes regiões do país e às necessidades diversas dos usuários.


Fontes:

  • Associação Brasileira de Infraestrutura para Mobilidade Elétrica (ABIME), relatório 2025
  • Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma), “Especialista afirma que tendência de carros elétricos deve subir em 2025”, abril de 2025
  • Associação Brasileira do Veículo Elétrico (ABVE), dados de abril de 2025
  • InsideEVs Brasil, “Infraestrutura de recarga no Brasil: onde estamos e para onde vamos”, março de 2025
  • Ministério de Minas e Energia, “Plano Nacional de Eletromobilidade”, fevereiro de 2025